Por volta das 7 da noite a casa se enchia - e a mamãe só saía da cozinha com a vela para os parabéns. E a sala, os quartos, o corredor e a cozinha ovais (do tamanho de um ovo) se enchiam de parentes, algumas vezes vizinhos, mas sempre parentes: primas, primos, tios, tias, vovó. E o chão se enchia de doces pisados, refri derramado, e outras coisas que caiam ou derramavam. E a cama se enchia de presentes: LPs da Xuxa, relógios da Xuxa, canetinhas, perfumes, livros, bonecas, pelúcias. E a casa se enchia de barulho. E o telefone tocava e era pra mim e era alguma tia que não pode vir desejando muitas felicidades e um "bom marido" mas eu não conseguia ouvir direito por causa do barulho e repetia "brigada, brigada, amém." E na hora dos parabéns eu me posicionava na frente do bolo no dilema "de quem é o primeiro pedaço?" e "com quem será que eu vou casar?" "eu vou casar?" E o dia acabava com a casa uma ... (que adjetivo se usa para apartamento depois de festa?) e mamãe prometendo que ano que vem não tem, mas sempre tinha.
Até que eu fiquei velha.